sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

2º Artigo / EMOÇÃO = EMOTERE = Do latim, MOVER em direcção A...

Sem emoção, nada avança!

"As emoções, com os seus altos e baixos, dão cor à vida. "

A palavra emoção vem do latim emotere que significa abalar, sacudir, deslocar,
PÔR EM MOVIMENTO, MOVER.

Logo, emoção, antes de mais nada, significa movimento.

Ou ainda,
energia em movimento.

Portanto, não devemos perder de vista o facto de que, sem emoção, nada avança.

PERGUNTA:

- "Se eu fosse uma pessoa sob total autocontrolo, seria fria e sem emoções?
As emoções impediriam o meu desenvolvimento espiritual?
Reconheço que sou uma pessoa altamente emocional e vulnerável às influências externas do tempo, das pessoas, do ambiente...etc...
Por outro lado, sempre soube que é justamente a minha sensibilidade que torna possível o meu desenvolvimento espiritual... "

RESPOSTA:

- “Não há nada de errado em ser emocional. Vais aprender a seguir as emoções positivas e a largar as negativas”.

As emoções positivas dão-nos uma perspectiva mais ampla das situações, isto é, dão-nos clareza e confiança nos nossos propósitos: onde estamos e para onde queremos ir.

Elas trazem-nos a sensação de felicidade, pois o sentido da vida torna-se energeticamente presente.

As emoções negativas deixam-nos descrentes e confusos quanto às nossas metas.
Quando perdemos o significado da vida, sentimos uma profunda tristeza.

As emoções positivas são virtudes mentais: energia positiva acumulada.
Elas revitalizam-nos, despertam determinação e interesse em obter novos conhecimentos e em renovar as nossas atitudes: uma vontade sincera de mudar para melhor.

Uma vez que as emoções positivas nos tornam disponíveis para o novo, tornamo-nos flexíveis e abertos.
Interessados em aprender, sentimo-nos vivos, despertos.

Portanto, as emoções positivas são reparadoras.

Elas provocam bem-estar e ajudam-nos a superar as emoções negativas que, por sua vez, consomem a nossa energia vital, deixando-nos exaustos e depressivos.

“Essencialmente, a emoção destrutiva – que é também chamada de factor mental ‘obscurecedor’ ou ‘aflitivo’ – é algo que impede a mente de comprovar a realidade como ela é.
Na emoção destrutiva, sempre haverá uma lacuna entre o que parece e o que é”.

Pois quando as nossas opiniões estão contaminadas por uma emoção negativa, temos uma imagem distorcida das coisas e das pessoas, e ficamos impedidos de equilibrar as suas qualidades positivas e negativas.

Quando somos movidos pelo apego excessivo, pela aversão ou pelo ressentimento, por exemplo, ficamos rígidos.

Amarrados às nossas idéias fixas, tornamo-nos intolerantes e sem perspectiva.

Não estamos, portanto, ABERTOS À MUDANÇA: presos aos nossos hábitos negativos, perdemos a habilidade de nos movermos em direção a novas possibilidades.

As emoções negativas inflam o ego e criam exageros que acabam por desencadear separações, ciúmes, inveja, baixa auto-estima e doenças físicas.

As emoções positivas geram estados mentais construtivos como o amor-próprio, a boa auto-estima, sentimentos de integridade, de solidariedade, de generosidade e compaixão, e por isso nos tornam empáticos com Sabedoria:

- Somos capazes de nos perceber a nós mesmos e aos outros ao mesmo tempo e, assim, agir de acordo com as necessidades reais da situação.

Desenvolver a inteligência emocional:

- A “capacidade de criar motivações para si próprio e de persistir num objectivo apesar dos percalços; de controlar impulsos e saber aguardar pela satisfação de seus desejos; de se manter em bom estado de espírito e de impedir que a ansiedade interfira na capacidade de raciocinar; ser empático e autoconfiante”.

Desenvolver a autoconsciência, isto é, a capacidade de identificar um sentimento quando ele surge e a habilidade de discernir as emoções construtivas das destrutivas.


À Luz do Budismo:
- A natureza da mente subtil do ser humano é potencialmente pura como a energia de um puro cristal.
No entanto, está contaminada por três grandes venenos mentais:
- O apego, a raiva e a ignorância.
Estes, por sua vez, são resultantes de um grande veneno mental:
O facto de pensarmos que as coisas existem por si só e que são permanentes.

Nada existe por si só, tudo está interligado.

Apesar do seu aspecto permanente, tudo está em constante transformação.

Podemos compreender estas verdades racionalmente, mas agimos instintivamente como se as coisas e as pessoas existissem em si e por si próprias, a partir delas mesmas.

A nossa percepção da realidade está distorcida.

Da mesma forma, sabemos que vamos morrer um dia, mas vivemos como se fôssemos imortais.

Podemos até perceber a nossa ignorância, mas enquanto a base de nosso ambiente interno for o medo e a dúvida, continuaremos presos aos nossos hábitos mentais/neuronais distorcidos.

Enquanto pensarmos que somos pessoas carentes e inadequadas, não seremos capazes de reconhecer a nossa base interna positiva.


Emoções Básicas
1. Apego, isto é, desejo ou ansiedade por possuir
2. Raiva, hostilidade, ódio
3. Ignorância, ilusão
4. Orgulho, arrogância
5. Dúvida ou suspeita
6. Visões falsas ou errôneas

As Vinte Emoções Secundárias, derivadas de algumas Emoções básicas, conhecidas também como Os Vinte Factores Afins da Instabilidade, são:
1.Raiva. Irritação, agressividade ou indignação
2.Ressentimento ou rancor
3.Hipocrisia ou dissimulação
4.Malevolência ou animosidade
5.Inveja ou ciúmes
6. Crueldade ou malícia eApego
7. Avareza
8. Excitação mental
9. Arrogância ou presunção.Ignorância
10. Desatenção
11. Melancolia ou Mente Pesada
12. Falta de confiança ou Incredulidade
13. Preguiça
14. Falta de atenção introspectiva ou esquecimento
15. Falsidade ou pretensão
16. Desonestidade
17. Impudência ou ausência de vergonha
18. Falta do senso de propriedade ou desconsideração
19. Desinteresse
20. Distração

Os Onze Factores Mentais Virtuosos são:
1. Fé
2. Sentido do que é correto
3. Consideração pelos outros
4. Desapego
5. Não-raiva ou imperturbabilidade
6. Não-confusão
7. Perseverança entusiástica
8. Flexibilidade
9. Rectidão mental
10. Não-violência
11. Equanimidade

Os Quatro Fatores Mentais que podem ou não ser virtuosos são:
1. Dormir
2. Arrependimento
3. Investigação geral
4. Análise


O critério usado para fazer essa distinção foi a observação dos factores mentais que contribuem para a meditação e para o desenvolvimento.

As emoções positivas encontram-se, na maioria das vezes, encobertas por emoções negativas.

A psique humana é formada por camadas mentais: experiências que se sobrepõem e se sustentam umas às outras. (Gestalts)

Por esta razão, o desenvolvimento espiritual é comparado ao acto de descascar uma cebola: cada camada retirada expõe as qualidades da camada que está abaixo, até desvendar o seu núcleo, que é verdadeiramente puro e positivo.

Portanto, o budismo inspira-nos a entender que no exato momento em que sentimos raiva, temos também a não-raiva como um realidade emocional subjacente à ela.
Ou seja, as nossas emoções negativas não podem contaminar a nossa natureza essencial - o núcleo de nossa mente -, mas podem encobri-la.

Se elas fossem inerentes à mente, não haveria sentido no nosso trabalho de removê-las!

Para nos desenvolvermos interiormente, é essencial perceber que é possível libertarmo-nos delas.

Chögyam Trungpa, um renomado mestre do budismo tibetano, define o núcleo central e saudável de nossa mente como a bondade fundamental dos seres humanos.

Assim, diz ele: “O primeiro passo para perceber a bondade fundamental é valorizar o que temos. Em seguida, porém, deveríamos ver mais longe e examinar o que somos, quem somos, onde estamos, quando somos e como somos enquanto seres humanos, para então sermos capazes de tomar posse da nossa bondade fundamental.

Não se trata de uma ‘posse’, mas de todo modo nós a merecermos”.

A mente pura como cristal está sempre presente; no entanto, depende de nosso ambiente interior para se manifestar.
Isto é, necessita de constante abertura, confiança e coragem para olhar o que quer que surja em nossa vida com compaixão e entendimento.

"O coração desperto" provém de estarmos dispostos a enfrentar nosso estado anímico.
Essa exigência pode parecer excessiva, mas é necessária.
Cada um de nós deve examinar-se, perguntando quantas vezes tentou um contacto pleno e verdadeiro com o seu coração”.

No caminho do autoconhecimento, temos que ficar atentos às desculpas que usamos para não buscar a nossa evolução.

Não podemos acomodar-nos nem confundir estabilidade com estagnação ou segurança com resistência à mudança.

As emoções destrutivas deixam-nos inquietos e inseguros.
Se, por exemplo, estamos preocupados em buscar formas de garantir a continuidade de um prazer, perdemos a espontaneidade e deixamos de apreciar o momento presente.

O problema é que estamos tão habituados ao nosso ambiente interno de tensão e expectativa que sequer nos damos conta de que estamos em sofrimento.

As emoções positivas, ao contrário, são sempre realistas e construtivas. Com elas, tranquilizamo-nos e sentimos disponibilidade para nos abrirmos aos outros.

“A nossa bondade fundamental repousa na capacidade de vivermos de uma maneira plena, apaixonada, vívida e activa; na capacidade de estarmos totalmente conscientes de nossa vida e de vivê-la irrestritamente, não importa as reviravoltas que possa dar; e na capacidade de cuidar tanto dos outros quanto de nós mesmos”.

Portanto, o ponto de partida é aceitar que podemos transformar a nossa mente inquieta numa mente de abertura e confiança:
"Voltar “para casa”, como dizem os mestres .

Texto extraído do “O livro das Emoções - Reflexões inspiradas na Psicologia do Budismo Tibetano” de Bel César, Ed. Gaia.

Adaptado por
Isabel Perry
http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=4153&onde=2

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