domingo, 2 de janeiro de 2011

Aceitação - por José Figueira em http://www.pnl-portugal.com/index.htm

http://www.pnl-portugal.com/index.htm

Aceitação…



Conhecem a sensação característica das segundas-feiras de manhã, o pensamento no chefe, as tarefas que nos desagradam e têm de ser feitas, arrumar os papéis no escritório, ou simplesmente limpar a casa, o encontro com aquela pessoa terrível que não podemos evitar… já para não falar na sensação subjacente contínua de irritação, vazio, culpa, ou uma simples inquietação subtil… ou ainda aquelas reacções inesperadas que, por mais que façamos, não conseguimos controlar…

E então, neste momento especial do ano, decido:
- Tenho de me livrar de tudo isto!

Talvez que para muitas pessoas seja uma surpresa o que vou dizer: o primeiro passo é deixar as coisas como elas estão.

O remoer mental a procurar soluções não adianta, pelo contrário, pode agravar a situação.
Estamos tão habituados a resolver qualquer situação no mundo físico através das faculdades cognitivas, raciocinando sobre a solução, que queremos resolver da mesma maneira os problemas pessoais e relacionais através de um diálogo interno.
A questão é que, este remoer automático no campo pessoal e das relações, agrava, em geral, ainda mais as sensações limitadoras e pode aumentar os sentimentos de culpa resultantes da nossa incapacidade para resolver questões emocionais internas.

Então a saída desta situação, como há muitos anos se afirma nos livros de auto-ajuda e cursos de desenvolvimento pessoal, seria a repetição afirmativa de pensamentos positivos.
Em vez de remoer pensamentos negativos, dirija-se de forma positiva àquilo que quer: por exemplo, ser livre, ter paz interior, ser feliz, calmo e confiante, em equilíbrio connosco e com os outros, sobretudo, em balanço com o que sentimos que há de mais essencial em nós… O que é melhor!

Mas infelizmente, na maioria das vezes, também não funciona. E aqui a razão é mais subtil.
Pensamos que nos estamos dirigindo de forma positiva para o que queremos, não estando conscientes do diálogo interno automático que tem raízes profundas em nós.
Por detrás das afimações positivais mais ou menos racionais, uma voz íntima diz:
- não quero mais a prisão, nem o vazio, nem o reboliço interior, nem a insegurança, nem o medo - uma voz que é a expressão de uma criança ferida, desesperada por atenção e elogio, pelo reconhecimento e colo que lhe faltaram.
Ora as determinantes das nossas sensações e comportamentos, não são os pensamentos mais ou menos conscientes mas sim, sem que demos por isso, a voz interior que escapa, em grande parte, ao nosso controlo consciente e que é a expressão da dor que não queremos sentir.
O que fazemos, na realidade, é fugir a esta dor, à custa de muito esforço e desperdícios de energia.
As pessoas empregam diversas maneiras para se afastar da dor.
A maioria consiste em sedativos para acalmar os sintomas desconfortantes, muitas vezes temporariamente, o consumo generalizado na sociedade actual, não só o consumo de drogas com nomes oficiais de drogas, para além do álcool e tabaco, mas das outras todas – televisão, viagens, roupas, carros, cursos de desenvolvimento pessoal, livros de auto-ajuda, alguns movimentos ou técnicas espirituais, comemorações religiosas, política, profissão, no fundo, tudo o que a sociedade de consumo oferece, pode servir.

Há também práticas terapêuticas que pretendem neutralizar a emoção negativa dos acontecimentos que estão na origem dos nossos infortúnios.
Ora como os nossos infortúnios, registados no nosso corpo e alma, já podem vir de gerações e gerações passadas, há aqui um bom negócio.
Claro que tais práticas podem oferecer, não só alívio e insight, como transformar e levar a uma maior abertura, calma e flexibilidade.
Podem-se até, excepcionalmente, experimentar momentos de congruência interna e mesmo o contacto com algo mais profundo que vai além das construções intelectuais ou de emoções específicas.
Na verdade, o caminho da nossa “libertação” parece, inevitavelmente, empregando linguagem metafórica, fazer-se através da queda de muros de prisões internas sucessivas.

Sem pretender ser exaustivo, posso nomear ainda outras formas de ajuda para a transformação do desconforto.
Pode trabalhar-se directamente com o pensamento cognitivo.
Há pessoas especializadas, por exemplo, dentro da filosofia e da psicologia cognitiva, que nos ensinam a pensar melhor. Na PNL (Programação NeuroLinguística) pretende-se, em grandes linhas, acompanhar as pessoas num processo contínuo de tomada de consciência da sua experiência subjectiva, destilando estruturas e processos de comunicação interna e externa e utilizando essas estruturas para a mudança.
Outras formas de tomada de consciência da nossa experiência subjectiva, funcionamento da nossa mente, processos de transformação na nossa vivência da vida, são as práticas milenares de meditação e Yoga, sobretudo, no meu entender, as práticas mais tradicionais vindas do Budismo.
Nas formas de transformação pessoal que, tanto dentro das práticas milenárias de meditação, como na medicina comportamental que nos vem da América como ajuda no combate ao stress, tal como nas mais modernas formas de psicologia cognitiva à volta dos temas depressão e dor, e também dentro de uma visão da PNL, a palavra-chave é, cada vez mais, “aceitação”.
E, para evitar mal-entendidos, não se trata aqui de “resignação”, mas justamente de algo que parece não ser nada fácil:
- em vez da luta interior e com os outros, trata-se da aceitação activa das coisas como elas são.
Desde que se não faça isso, luta-se contra o que se não quer (guerra, crise, terrorismo, crime, doença…) que é a forma generalizada do pensamento negativo.
E assim se reproduz o que já está mais que desgastado, entrando em jogo a velha lei: “ quanto mais luta contra o que não quer, mais justamente acabará por recebê-lo de presente”.

Um olhar mais compreensivo para comportamentos, sensações e crenças (não funcionais) como ponto de partida, é facilitado nos modelos da Programação NeuroLinguística:

Primeiro: aspectos não funcionais como agressividade, sensação de inferioridade, medo, desmotivação, orgulho, culpa, perfeccionismo, tristeza, controlo, inquietação, falta de auto-estima, etc., não são propriamente “eu”, mas partes de mim, fora do meu controlo racional;

Segundo: estes aspectos indesejáveis possuem uma intenção positiva, objectivos significativos.
Cada pensamento, sensação ou acto de um aspecto de nós (agressividade, perfeccionismo, timidez…), pretende atingir uma hierarquia de objectivos significativos, que vão, por exemplo, de coragem, segurança, tranquilidade e bem-estar, até estados essenciais de Ser, como Amor, Plenitude ou Nirvana.
Isto é algo de que, em geral, não nos apercebemos conscientemente.
Um exemplo de uma hierarquia de objectivos: a parte agressiva em nós, age como age, para conseguir, possivelmente, a atenção do outro, ser respeitada, fazer-se ouvir, sentir-se segura, encontrar paz, tranquilidade e atingir o bem-estar, em última análise, até talvez, um estado de Paz, Plenitude ou Amor.
Tudo intenções com significados altamente positivos, culminando com estados essenciais de Ser.

Estes significados essenciais positivos dos comportamentos, pensamentos, sensações do que catalogamos como indesejável, colocam a situação problemática numa nova dimensão ou acabam, até mesmo, por neutralizá-la, tal como num crente se dissolvem os seus problemas perante a manifestação divina do Amor.
Quanto mais abrangente é a vivência do significado (Amor, Plenitude), mais profundas as transformações.
É o que acontece no processo da “Transformação Essencial”, desenvolvido por Connirae Andreas, uma psicoterapeuta americana que fez parte do primeiro grupo de PNL formado por Bandler e Grinder, grupo esse a quem se deve o desenvolvimento da PNL até ao que hoje é.

Não se pretende directamente neutralizar o indesejável. Procura-se encontrar soluções alternativas ecológicas, para realizar as nossas intenções positivas, em que a tomada de consciência e a aceitação dos aspectos indesejáveis de nós, são o ponto de partida.
Este parece-me um dos pontos mais essenciais da metodologia.
Só a partir daí se pode dar a ruptura no nosso processo automático de funcionamento mental, processo esse de que, em geral, não temos consciência.

A guerra é a constante nas nossas vidas.
Reagimos de forma sonâmbula e automática, nas organizações, nas relações, durante as nossas actividades pessoais.
Temos olhos que não vêem, ouvidos que não ouvem, como está escrito na velha parábola.
De vez em quando despertamos.
Despertamos, para logo depois o automatismo da luta contra o que é, se apoderar novamente de nós.
Somos máquinas de desejo, robots, em luta connosco e com o mundo, irrequietos, muitas vezes em pânico, lutando, numa ilusão contínua de controlo.

O remoer mental na procura de solução para um problema pessoal, tentar livrar-se de qualquer sensação indesejável, não leva longe.

É curioso que tanto na medicina comportamental (Jon Kabat-Zinn), como na psicologia cognitiva ACT e MBCT (Steven C. Hayes, Spencer Smith, Zindel V Segal, J. Mark G. Wiliams, John Teasdale e outros), as palavras “aceitação” e “atenção plena e intencional no aqui e agora sem julgamentos” se estão a tornar as palavras-chave dum novo paradigma para uma nova vivência de nós e do mundo.
Só então pode nascer a diferença.

Se queremos o novo em nós e no mundo, há que parar drasticamente com a forma como lidamos connosco.

O primeiro passo é pois, de forma activa, aceitar as coisas como elas são, a começar por nós próprios, em vez da luta e remoer que agrava as sensações desconfortáveis.

Em vez da repetição automática de velhos padrões, poderão, então, surgir novas escolhas e abrir-se o caminho para uma transformação mais radical.
E talvez, um dia, se dê uma ruptura ainda maior.
Talvez entremos no estado de Ser Pleno aqui e agora, nos estados essenciais de Totalidade, Paz, Amor.
Isso só pode acontecer, dizem os entendidos, a partir de uma maneira mais compreensiva, respeitosa e terna de lidarmos connosco, sem luta contra as diversas partes de nós, nem exigências de recompensas imediatas.

Faz-me lembrar palavras de Krishnamurti.
O que é preciso é deixar a nossa janela aberta, “… e a brisa vem quando vier. Se esperamos que a brisa venha porque abrimos a janela, ela nunca virá”.


Obrigada José. É bom poder aprender contigo. Bom 2011!


2 comentários:

Miguel Ferreira disse...

Parebéns pelo teu blog Isabel.
Muito bom,...
Bem hajas pela corrente que ajudas a criar.

Isabel Perry disse...

Só agora vi o teu comentário, Miguel... Muito obrigada. Sabe bem saber que estamos todos juntos! :-)